sábado, 14 de agosto de 2021

Balanço Geral

 Originalmente escrito em 31/05/2006

A roda da Fortuna completa sua vigésima sétima volta em minha existência. E, da mesma forma que meu intrépido confrade (que, hoje em dia, tornou-se um traidor de tudo aquilo que lhe era caro), faço um balanço da temporada 2005/06.

A mônada de eventos e facetas de personalidades a qual vislumbrei, trouxe a mim a famosa frase de Shakespeare: "Há mais no céu e na terra do que sonha nossa vã filosofia". Contudo, uma pergunta é necessária para que continuemos: "Afinal, o que vai além de nossa vã filosofia?"

A resposta está na leitura da fortuna cortesã. Se existe um tema que existe em conjunto ao tema do amor cortês, é a temática da dissimulação cortesã. Em pleno século XXI, a corte está no ambiente mais marginalizado da sociedade urbana brasileira - a Universidade.

Temos nas principais cidades os castelos do conhecimento que, mesmo com todos os planos de hipocrisia gerados pelo Governo, abrigam o mais alto quilate do pensamento no país. 

Se observarmos rapidamente a organização universitária, poderemos perceber como essa corte se comporta. Professores se colocam como a alta nobreza, alunos de pós como a baixa corte e os alunos de graduação como acompanhantes. Eis a chave de entendimento para a situação marginal do estudante de Terceiro Grau nos dias de hoje. Sentindo-se superior ao restante da população, ele costuma encontrar-se somente com seus patrícios em festas e eventos.

Percebam, ainda, que, tal qual um romance do século XVII, a Universidade abunda em festas para todos os lados. Da mesma forma, vemos o circuito cortesão com a mesma dinâmica de outrora. Intrigas, falácias, picuinhas e fofocas tornam o cotidiano universitário algo, para aqueles que não possuem talento algum para interpretação e muito para superinterpretação, deveras interessante.


Ir às aulas? Para quê? Nos corredores estão as notícias. Quem quer ser notícia, assim, permanece neste ambiente de tráfico, buscando, alterando informes miúdos. O grande valor da corte, portanto, mantém-se: mais vale o que se diz do que se é.

Um de meus colegas mais próximos sempre me ouviu declamar elogios ao dia-a-dia da Universidade. Porém, ele sempre soube que eu desconfiava das implicações acerca do regime desse cotidiano. Foi ele quem recordou de meu clássico dar de ombros quanto às situações que lembram a dinâmica dos salões.

O primeiro semestre tem relação com isso. Os primeiros meses viram o ressurgimento do bom e velho Hellblazer - produzi em diversos meios e retornei a antiga prática de fotografar por meio da escrita. a isso devo agradecer àquele traidor ora comentado.

Depois disso, aproveitei-me do regime cortesão ao máximo. Precisa me distrair um pouco. Foi tanto que me perdi em meio às intrigas e notícias sobre minha extraordinária pessoa (ironia rules, lembrem-se). A maior prova disso foi o erro que cometi em meu mais íntimo círculo. Mais uma vez, peço perdão sobre esse equivoco moral.

Porém, o ano de 2005 não foi somente de problemas. Como uma espécie de equilíbrio cósmico fui resgatado das cortesias e me vi embalado pelo sublime sentimento que move o mundo. Ela surgiu e, obviamente, eu tive medo, pois não reconhecia em mim alguém digno - o que eu via no espelho era um homem obcecado por seu próprio ego. Afinal, "eu era o universo". Gradativamente, ela soube me mostrar o quão estéril tinha se tornado esse universo. Foi ela quem me mostrou uma amplitude que poderia estar escondida em uma parte de mim mesmo que eu havia decidido, até o esquecimento, esconder. 

O segundo semestre foi o tempo das andanças pelo vale encantado da luz, motivado tão somente pela cumplicidade, companheirismo e unicidade próprias de uma relação duradoura. Conforme as palavras de meu orientador: "Você está mais dinâmico e feliz. Isso é perceptível... Essa menina está lhe fazendo muito bem. Espero que você esteja fazendo o mesmo".

Aguarde e confie, meu caro. Aguardem e confiem, leitores. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário