terça-feira, 22 de junho de 2021

Don Diego

 Escrito originalmente em 21/06/2006

Era uma vez, num local muito distante, um jovem rapaz que passara toda sua infância solitariamente. Seus pais eram funcionários de uma grande empresa e somente davam atenção a ele durante o final de semana. Porém, solitariamente não significa solitário. Desde a mais tenra infância, Diego Armando estava em meio à ficção. Jogos, fitas, desenhos, tudo era oferecido ao pequeno menino e somente três coisas o interessavam: comida, futebol e aventura. Essa era a infância de Don Diego.

Havia, porém, uma pessoa que podia visitá-lo com certa constância. Pouco mais velho do que Don Diego, Erik Larsen era o que podemos chamar de espírito livre. Logo no primeiro encontro dos dois, Don Diego percebera que Erik seria um grande companheiro de aventuras. Na reclusão de sua morada, D. Diego via-se como seus heróis da ficção e vorazmente comia com o simples intuito de envelhecer rapidamente. Comendo, imaginava-se tal qual Jack Chan em A Hora do Rush, junto com Erik a destilar de seu estranho humor, desafiando os perigos mundo afora. 

Seus 13 primeiros anos foram assim. Diego comia, brincava e sonhava. Seus finais de semana eram com os pais e outros membros da família. Encontros para a degustação de variados pratos, bem como de variadas brincadeiras. Foi com essa idade que D. Diego foi estudar na Ilha Crocodilo. Nessa escola, o jovem conheceu várias pessoas que passaram a chamá-lo de gordo. Nosso pequeno garoto, pela primeira vez, sentiu o peso de um adjetivo. Falou sobre isso com Erik, que respondeu: "Cara, se isso doeu, toma vergonha e faça exercícios..."

Não demorou muito e nosso herói envolveu-se em todo o tipo de exercícios e isso foi bom. Agora, Dieguito podia jogar bola da forma que ele sonhava na infância. Dribles, arrancadas e jogadas fantásticas faziam-no sonhar com a glória de jogar futebol, mas ele também sabia dos riscos envolvidos e decidiu continuar sua vida na prática do esporte de maneira amadora. 

Sua nova preocupação agora era definir sua carreira profissional, mas as indecisões da vida acabaram por lhe designar uma ocupação. Talvez uma fada, provavelmente um QI implantou-o no ramo da ressonância. Porém, vamos falar antes das inspirações de Afrodite.

Aos 16 anos, D. Diego estava com seu coração a titubear por conta da bela Juanita. Ela era uma amiga antiga que o jovem mancebo sempre teve receio de apresentar a Erik por puro medo de suas profecias. D. Diego sabia intimamente que sua paixão era infrutífera, mas não queria ouvir isso. Conseguiu por dois anos.

Chega a maioridade e D. Diego ouve as palavras de Erik. A mente do rapaz tenta encontrar alguma justificativa, mas ele sabe que seu amigo está certo.

Finda o dia de comemorações e Diego encontra-se em sua cama. A luz do luar é como uma música de
ninar a lhe fechar os olhos. Enfim, nosso amigo adormece. Abrindo seu campo de visão, o rapaz se vê em meio a batalha de Tróia, no exato instante em que Aquiles mata Heitor, vingando a morte de Pátroclo. Nervoso, o jovem procura um local para se esconder. Afinal de contas, ninguém gosta de uma lança trespassando sua coxa. Enfim, ele encontra o local perfeito para se esconder: um pequeno lago rodeado de pedras.

Don Diego corre e pula prontamente no lago. Extremamente nervoso, ele percebe que não se trata de um lago, mas de uma enorme poça de sangue devido aos mortos em batalha. Seu fôlego acaba pouco a pouco enquanto ele afunda...

"Pode respirar, mortal" - afirma uma feminina voz. "Ei, eu conheço você!" - retruca o aliviado Diego. "Mais respeito, idiota! Em meu sofrimento, trouxe você, o mais jovem descendente de meu filho, para lhe ensinar o que fará de você tão imortal quanto o meu amado Aquiles! Eu sou Tétis, a ninfa - mãe do maior herói narrado pelo poeta cego."

"Minha senhora, o que eu tenho com Aquiles, tá doida?" - pergunta o incrédulo. "Cala-te, mortal!" - brada a pequena deusa - "Tu tens o sangue de meu filho. Por isso, posso ensinar-lhe sobre o teu ponto mais fraco!" - E, quase de bate pronto, o ansioso: "Então, fala!"

"Depois de tanto tempo e impurezas, você não pode almejar a imortalidade. Entretanto, poderás alcançar uma vida longa e próspera. Talvez, até mesmo se tornar um símbolo religioso para seu povo..."

"Vamos dizer que eu esteja acreditando. Como isso poderia acontecer? E o que eu deveria fazer?"

"Simples. pequeno mortal. Mostre teu coração somente àqueles que mereçam sua confiança, pois aí está o seu ponto fraco. E lembre-se que, pelo nariz, poderás encontrar o prazer e a danação..."

Em todos os sentidos, D. Diego acreditou no sonho e o restante se tornou história.



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