quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Carta aberta ao amigo hipócrita

Olá, caro amigo...

Há quanto tempo, hein? O ano de 2020 não está fácil, pois, não sei se você percebeu, mas estamos com uma enorme responsabilidade em mãos. É, cara, responsabilidade…

bob esponja fodase Blank Template - Imgflip
Acho que, pela primeira vez nesta geração, somos colocados cotidianamente a pensar no outro. Temos de pensar naquilo que temos de fazer para que o outro sobreviva. Minha avó (que já morreu e nasceu no século XIX), viveu intensamente a gripe espanhola e a primeira guerra mundial. Meu pai, com 15 anos, acompanhava estarrecido a Segunda Guerra Mundial. Meus irmãos viram o que era chamado como “epidemia gay” se tornar uma doença devastadora. Todos, no entanto, se empenharam de alguma forma a ajudar os outros. Cada um do seu jeito, mas sempre tentando, com o seu comportamento, ajudar o outro que sequer conheciam.

Peste negra: onde surgiu, sintomas e consequências - Escola Kids

Nosso problema atual é mais prático. Somos todos potenciais vetores de um vírus letal. Podemos carregar um vírus que irá matar nossos parentes, amigos, colegas ou mesmo desconhecidos que esbarremos em nosso dia-a-dia. Portanto, o vírus não é algo que vive isoladamente, que permite que você se finja de burro para saciar sua vontade de tomar uma birita, dançar um forró ou produzir melanina embaixo do sol de qualquer praia.

Quando você toma essas atitudes, desculpe, mas se torna meu inimigo. Você, por quem tive carinho e afeto se torna algo abjeto. Quando você se preocupa em potencialmente carregar um vírus para agradar a sua vontade de sair, acaba criando desculpas - mas o governador/prefeito está reabrindo tudo; a gente não pode ficar “preso” em casa pra sempre, temos a obrigação de salvar a economia… Todas desculpas esfarrapadas. A primeira tenta te eximir da responsabilidade de ser um vetor, mas, olha a novidade - o vírus não se importa com sistema político - ele se importa com você e sua atitude idiota de dar rolê e jogar gotículas enquanto fala pra todo lado. A segunda relaciona-se com o seu abjeto egoísmo - se você não consegue ficar em casa porque não suporta sua esposa, filhos ou a convivência diária, procure tratamento ou não seja hipócrita e jogue tudo pro ar. Estar em casa não é estar preso, é salvar aquele desconhecido que pode pegar o vírus de você, idiota. A terceira é a mais interessante pra mim - quantas pessoas você está disposta a matar por causa da economia? Quantas?!

“Ah, cara, mas eu sou obrigado a trabalhar. Por que não posso me divertir também?”, você me pergunta. E eu respondo. Você pode se divertir, mas, neste momento, é sua responsabilidade se divertir em casa, isolado de outras pessoas. Você não deve satisfazer a sua preguiça, colocando um garçom em risco de morte. Você não deve sair pra olhar a beleza de alguém porque está cansado de olhar para seu cônjuge. E não pense você que estou sendo hipócrita pois desde o início da quarentena, eu somente saí três vezes. Eu tenho visto você sair toda semana para restaurante, bar, feiras, praia e mais atividades festivas. É você que está matando as pessoas, não é o prefeito (esse tem outra parcela de responsabilidade), é você que está matando os seus vizinhos, é você que pouco se importa como outro, você só lembra que o outro existe para que você possa se sentir superior. Espero sinceramente que você não fique doente, mas não me venha mais com papinho de que as pessoas estão exagerando quando estamos num país que matou 120 mil pessoas por conta do seu comportamento que é compartilhado com tantos outros seres abjetos como você.

A imagem pode conter: 1 pessoa, sapatos

Adeus, velho amigo, mas a amizade aqui acabou.

RJ, 31-08-2020.

Nenhum comentário:

Postar um comentário