sábado, 16 de outubro de 2021

Cauby, Cabuby - impressões da plateia

 Escrito originalmente 21/08/2006.

No dia 20/08/2006, eu e minha companheira fomos pagar uma dívida - fomos ao teatro com meus pais. Não conseguimos estar com eles no domingo anterior (dia dos pais), o que gerou a pendência. Fomos, então, ao SESC Ginástico a fim de assistir a Diogo Vilela em sua homenagem ao cantor Cauby Peixoto. 

Ficamos na terceira fila, próximos ao palco e fazendo inveja em muitas pessoas, pois, atrás de nós estavam: Fernanda Montenegro, Fernanda Torres e Miguel Falabela. Realmente, pensei eu, poderia assistir uma peça sem comentários absurdos e com respeito aos artistas que estavam no palco, fazendo valer a magia da representação.

Ledo engano! As três matracas atrás de nós não pararam um só instante. o desrespeito à longa - e cheia de clichês narrativos - homenagem ao cantor plastificado foi tamanha que fiquei preocupado com meus pais, pois queria que os dois pudessem realmente embarcar naquela narrativa. Essa se provou uma preocupação tola porque os dois estavam fruindo tão intensamente a peça que não ouviam mais nada. Os dois idosos da minha vida relembravam músicas, ao mesmo tempo em que comentam baixinho, timidamente, a relação entre essas músicas e passagens de suas vidas. Os comentários se limitavam a "Lembra?" e um aperto mais carinhoso de mãos. Não parecia, para os dois, que atores estavam falando incessantemente como as lavadeiras na obra de Aluísio de Azevedo. 

Os atores na plateia falaram de tudo - filme novo da velha, o novo DVD da nova, da vida sem sono do ator-bottox, e cada gesto ou expressão de Diogo que eram repetitivas. Após mais de uma hora de peça, os três se levantam, de maneira impressionante, e gritam a plenos pulmões "bravo, bravo" para uma peça em que fizeram diversas coisas, mas assistir a encenação não foi uma delas.

O figurino da peça, voltando ao assunto, foi um caso à parte - simplesmente perfeito! A voz dos atores-cantores também foi um ponto alto. A história, do ponto de vista narrativo, era um somatório de clichês. O intuito era se concentrar nas músicas e essas tinham um grande poder de atração, cada canção fazia o público cantar junto e fruir do espetáculo. Com toda a certeza, a terceira idade adorou o espetáculo, os mais novos - provavelmente - acharam a peça cansativa e cheia de clichês narrativos e de esquemas teatrais. Aos meus 27 anos, minha percepção está com a dos mais jovens. 

O fato mais interessante, para mim, contudo, foi a enorme falta de respeito dos "monstros sagrados da dramaturgia" (Fausto Silva).

E ainda têm a petulância de falar sobre o público brasileiro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário