sábado, 30 de outubro de 2021

Confraria dos Capatazes do Brasil

Escrito originalmente em 26/10/2006 - editado em 25/08/2023

Como havia prometido, vou tentar analisar a política brasileira à luz das relações de conveniência, colocando o político brasileiro como correlato do capitão do mato do regime escravocrata. Para tanto, é necessário, primeiramente, definir quando a política formal no país se iniciou.


O ano desse nascimento é 1808 — as capitanias e a expansão colonizadora formam um cenário que podemos chamar proto ou pré-política nacional. Não opto por um nome em específico, mas saliento que, nessa época, os esquemas de acordos e trocas estavam extremamente ligadas aos interesses de Portugal e de suas classes dominantes. Apesar de a patente Capitão do Mato ter surgido na época dos Bandeirantes, é importante salientar que sua íntima relação com o regime escravocrata se dá, principalmente, com relação à fase final de nosso país enquanto colônia.


No referido ano, a cidade do Rio de Janeiro viu chegar o mais famoso comedor de frango assado, segundo o folclore, que se instalou por aqui. Coincidentemente, esse glutão era o Rei de Portugal e, junto à corte, consolidou a cidade como capital do Império. Algo estranho, pois a capital de um Império Europeu veio parar na América do Sul. Isso se deu devido à covardia notória dos reis que, não tendo como enfrentar aquele baixinho folgado (Napoleão), resolveu fugir para a colônia "mais europeia" daquela época.



Acredito que a melhor forma de analisarmos esta categoria de comportamento, como se trata de uma teoria especulativa, uma hipótese em andamento, seria a correlação do conjunto textual de documentos endereçados ao rei e a análise de comportamentos sociais pelas artes. 

A hipótese, então, é a seguinte: a forma de relacionamento que produz as estruturas políticas no Brasil nasce das relações entre o capitão do mato e seu senhor, num processo infinito (e situacional) entre esses dois personagens que, com o passar do tempo, assumem posições fluidas no tecido social em sua totalidade. Fluidez entre as posições de capitão do mato e os escravos a serem capturados estaria representada e espelhada na figura do senhor que pode ser institucional ou circunscrita numa pessoa (havendo sempre a sombra de uma instituição ou várias), mesmo nas relações privadas da casa ou do cotidiano.

Conforme já escrevemos, essa é uma relação extremamente problemática, pois a definição das partes é complicada. Em política, não há relação prática de níveis de poder. Seria, pois, uma análise caso a caso. Essas relações tornam-se o embrião daquilo que chamaríamos de política nacional e das demais políticas que permeiam as relações de poder no país. 

Aqui faremos um simples retrospecto da campanha eleitoral de 2006. A submissão dos candidatos aos pretensos senhores da vez de nosso país, ou seja, bancários e empresários de toda sorte, gera uma servilidade dos dois capitães do mato brasileiros às vontades desses homens. Deixando mais claro possível - tanto Lula quanto Alckmin e todos os demais emitiram discursos servis ao sistema bancário mundial e tentaram de alguma forma apaziguar a sanha de demolir a economia nacional. 


Esses homens, por sua vez, são servis a outros que, nesse caso são seus senhores - sempre representando uma instituição. Acredito que o momento seja propício para deslindar qualquer espécie de Teoria da Conspiração. Citando um exemplo claro — muitos políticos de S. Paulo, que deveriam proteger e servir a nação, baseiam (falo aqui do antigo PSDB e PFL/DEM) aos interesses do empresariado, em especial a Roberto Justus - uma espécie de porta-voz do empreendedor da época. Apesar de seus acordos com a Rede Record de Televisão (na época), o sr. Justus representa interesses espanhóis (Vivo/Telefônica), italianos (Fiat), entre outros. Se pegarmos a última expansão do ABC paulista, veremos a grande mão de Justus, mas não era a persona dele que, ao receber as ordens senhoriais, açoita políticos paulistas com o objetivo de fazer valer seus interesses. Senhores, capitães e servos para todos os lados...

A relação entre as partes, concordemos, é belíssima, pois bem organizada através do tempo. Bela para as instituições bancárias e grandes empresas, é claro. Não há negociação, há imposição autoritária cuja soberania é oca, vazia em si mesma, pois não há relação com os comandados ao final da cadeia de comando (e não me refiro somente aos pobres, mas a todas as classes sociais).

A pergunta, se me permite o leitor, que lanço aos ventos pode parecer estranha, mas se impõe em minha mente.

Quando será criado o primeiro Quilombo Institucional Brasileiro?!




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